Diário de uma Lagarta

20 de outubro de 2023

sexta-feira, outubro 20, 2023

PEDAÇOS



Levem, quando eu morrer, cada pedaço meu, devoradores!

Peguem as minhas mãos e acariciem seus egos:

Meus olhos e tentem enxergar além das suas pequenas almas

Minha boca e calem para não perceberem o quanto pecam contra a eternidade

Minhas pernas e corram para longe do abismo que tentaram me tragar

Meus ouvidos e digam as mentiras que sempre me disseram para ver se agora, eu ouço 

Mas meu espírito não. Ele é quem eu sou, e este, nem com a minha morte vocês alcançam. 


9 de julho de 2022

sábado, julho 09, 2022

E por falar em mentira


Eu sempre falei que tinha uma história de amor para contar, mas na verdade eu assumo que esta foi a maior mentira que eu contei. Eu tenho uma história de tempo, e na maioria dela, eu perdi. Se eu tivesse a lente que tenho agora, teria percebido antes que amar é verbo, é ação do sujeito que ama, e só. O sujeito ama só. Ele quer muito e a qualquer preço, e no final, o preço que se paga não vale a mentira que se conta. Você, sujeito, ignora a limitação do objeto amado e o cobre com a sua habilidade, você vive mentindo que é amado de volta também, quando na verdade, só amou. Só, amou. 


Quando olhar para trás com os olhos que a realidade te dará, (porque ela é implacável) o que verá é um monte de horas perdidas como analista de um sujeito sem nenhuma ação, sem nenhuma remuneração, nenhuma mesmo. Nem o título de melhor pessoa que passou pela minha vida vai valer, isso porque, com 5 minutos você não valerá absolutamente nada diante de qualquer outra pessoa que ocupe aquele lugar de muleta que você foi. Sim, você foi só isso mesmo. É que tem gente que vive assim, a cada novo encontro, uma nova melhor pessoa da temporada vai surgir. 


Parece banal mas é o máximo que algumas pessoas alcançam, o problema é quando você acha que pode ser algo além disso para elas. Esse problema é seu, não delas.


Essa é outra mentira que eu contaria, dizendo que a culpa é do ser que simplesmente não tinha suporte em si para viver essa dinâmica devolvendo em proporção o que se esperava. Mas a culpa é minha, a culpa é sua. A gente precisava dessa mentira, precisava vivê-la para descobrir a verdade - tem tempo na vida que é assim, a gente se apoia no que dá conta de suportar e tem que se perdoar para conseguir lidar com as próximas mentiras que virão. Porque virão. Viver é ter olhos para suportá-las e escolher com qual delas você vai casar.


Mas será inevitável pensar que se pudesse voltar no tempo mudaria o roteiro, mas não pode. Sim, você perdeu tempo engolindo seu desconforto constante para deixar pessoas felizes, deixou de se sentir amada porque achou que amar era mais nobre, ignorou inúmeros sinais vermelhos que qualquer um percebia latejando menos você, e o mais importante, aceitar o fato de que é a sua história e você tem que respeitá-la com dignidade. 


Sendo assim, o que resta depois de uma grande mentira é isso, juntar os arrependimentos, misturar com a ira, salpicar com o desprezo, ponderar com o bom senso, permanecer e finalmente aprender: amar não é suficiente. Nem só o amor é. 



25 de junho de 2022

sábado, junho 25, 2022

O outro lado de Hannibal: a empatia pura de Will Graham




Hannibal é um personagem intrigante da literatura, que foi consagrado no cinema mundial por Anthony Hopkins, em 1991, em Silêncio dos inocentes. O Dr. Lecter de Hopkins aparece pouco mais de 16 minutos no filme, tempo suficiente para render um Oscar ao ator, e imortalizar o psicopata canibal no imaginário das pessoas. Recentemente, mais precisamente em 2013, o roteirista e produtor Bryan Fuller revisitou o universo de Hannibal e trouxe para a TV uma série, também, baseada no livro Red Dragon, o primeiro livro da trilogia no qual o psicopata aparece.



O clássico perfil do psicopata que causa medo, repulsa e pavor imediatos é banhado de sutileza na série, eis o novo perigo deste tipo de narrativa. Em alguns momentos, você pode acabar torcendo pela crueldade. O desafio dos personagens que convivem com Hannibal, assim como o de quem assiste, é sentir medo de um homem refinado, elegante, persuasivo e belo, que ninguém sabe ao certo quando vai atacar.



A maldade cruel e sofisticada do personagem Hannibal Lecter, interpretado pelo ator dinamarquês Mads Mikkelsen, nesta nova versão, em momento nenhum leva o público a comparar interpretações com o clássico psicopata de Hopkins. Na série, diferentemente do filme, o telespectador faz um mergulho mais profundo com os personagens através de um mundo insano de percepções, questionamentos filosóficos e conflitos de personalidade, apresentando personagens fora do padrão de psicopata vilão e agente do FBI herói que prende o criminoso e salva a mocinha. Fullher traz uma nova roupagem para o clássico dos cinemas, com um trillher psicológico sombrio e perturbador.

O Will Graham é um dos personagem centrais do livro Red Dragon, agente especial do FBI e caçador de serial Killers. Casado, cidadão acima de qualquer suspeita, pai, possui uma percepção apurada, mas nada fora dos limites da normalidade. Nos cinemas, este personagem foi interpretado por Edward Norton no filme Red Dragon, 2002, uma tentativa frustrada de reavivar e dar continuidade ao grande sucesso que foi Silêncio dos Inocentes.



Já o Will Graham, de Bryan Fuller, interpretado pelo ator Hugh Dancy, apresenta o lado oposto da psicopatia, uma empatia total e angustiante. Ele começa a série solteiro, professor da academia do FBI , estranho e sem qualquer traço de bom 'mocismo' social, típico do personagem retratado nos cinemas.





Ele tem um distúrbio de personalidade chamado na série de "empatia pura", uma capacidade quase sobrenatural de se colocar no lugar do outro, de sentir como o outro de se perceber como o outro, fato esse que leva o personagem a se isolar, a não olhar nos olhos das pessoas, a se esconder do mundo por medo de sofrer ou entrar em colapso. E em alguns momentos, podemos pensar que ele será de alguma forma o equilibrador perfeito para a psicopatia de Hannibal, se empatia é o que falta no psicopata, ele tem de sobra.




Mas é justamente através da "amizade" com Hannibal que fica claro o quanto essa personalidade empática sem restrições é tão disfuncional quanto a psicopatia. A relação entre os dois personagens centrais é incômoda, mas assustadoramente cativante. Aos poucos, com muita insistência, Will vai se "abrindo" ao mundo através do FBI e do seu psiquiatra. Certamente temos uma visão pré-concebida dos personagens desse tipo de enredo, e esta visão é reformulada ao longo dos diálogos impecáveis, entre uma sessão de terapia e um assassinato, entre um jantar preparado pelo psicopata, e uma noite de sono mal dormida do Will.



O que no início da série poderia ter gerado uma certeza de oposição e de que essa oposição era convencional, ao decorrer dos capítulos, nem o próprio Will sabe mais. O que alguns chamam de dom, ele enxerga como maldição, já que ao traçar os perfis dos criminosos ele se imagina matando as pessoas, como se fosse o assassino. A linha que separa sua empatia pura dos limites morais de certo e errado parece fina.


Temos a nítida sensação de que Graham está sempre olhando para o abismo e inevitavelmente este abismo o olha por dentro e o modifica. Como uma crisálida o personagem passa por uma metamorfose ao absorver outras percepções como se fossem suas, não conseguimos ter certeza se o que vai sair do casulo é uma borboleta linda e colorida ou mariposa feia e assustadora. E é esta característica do Will que cativa a atenção de Hannibal e a nossa.


Cada vez que ele encontra o método preciso dos assassinos que procura para prender, temos um misto de sensações perigosas: o bem venceu o mal, ou não existe essa divisão? O que fica bem claro é que, prender o psicopata da vez, é o que importa ao FBI, mesmo que isso custe o equilíbrio mental já limitado do professor/investigador.




Will Graham consegue levar o telespectador a se interessar por uma personalidade pouco interessante aos olhos naturais, tida a grosso modo, como uma personalidade de perdedores, aqueles que sentem demais, que se afetam demais, são tidos pela sociedade como seres de menor importância, não é de se espantar que os psicopatas façam sucesso e atraiam mais olhares, ainda que todos saibam exatamente o seu papel. Fazendo reservas entre ficção e realidade, existem pessoas empáticas ao extremo na vida real, tanto quanto existem psicopatas.

É esta personalidade metamórfica que faz o personagem Will Graham ser rico e cativante tanto ou mais que Hannibal, ele não divide atenções com o psicopata, ele contribui para o enriquecimento da trama. Ele quer desafiar o público a perceber detalhes, a olhar para o outro lado nas sutilezas, ainda que num enredo sombrio e insano. Ainda que sejam duas partes diferentes da mesma moeda.


18 de junho de 2022

sábado, junho 18, 2022

Desconvidado


Sempre levei tudo muito a serio, até minhas brincadeira tem o peso da seriedade que exalo e embora sempre tenha me questionado por isso, vejo que eu não poderia ser diferente pois desprezo quem passa a vida inteira brincando de viver e brincando de acaso. Talvez por isso odiei tanto quem fui antes e quando percebi, já tinha te convidado. 


Eu tenho muito compromisso com o que falo e isso não é força de expressão - meu corpo e minhas ações se comprometem com minhas palavras em todos os poros e isso diz como vou me sentir. 

 

Suspeito que minha estrutura funciona assim, mas isso não significa que tudo seja tão fácil de perceber. Nem eu consigo retirar peso do que sou e as contradições não me deixam seguras (ainda bem). Então, como você pode achar que me leu e agora sabe tudo a meu respeito? 


Sua presença em meu santuário foi um desrespeito com minha alma. Sempre soube que era indigno de estar em minha presença, mas meu compromisso é sempre com a minha palavra e com mais ninguém. 


E você não quis só entrar, você subiu no altar, aproveitou que ele estava vazio e fez parecer que era seu para ocupar. 


Vislumbrei força de quem quer, você simulou muito bem, mas quando percebi que suas palavras eram só brincadeira de quem ainda não aprendeu a viver, já estava tudo imaculado com reflexo do seu cigarro por todos os lados.


Sua pretensão sempre me disse o quanto era inapto para estar em santuários, você é pagão e seu Deus é o próprio ego. Mas você subiu como quem sabe rezar, dançou, fez oferendas e desceu, tudo sozinho. Sozinho não, você ascendeu com a minha descrença.  


Eu sabia exatamente que você iria cair mas não foi fácil ver sua queda. Eu precisei esperar o efeito anestésico ruir para só então aceitar o que eu já sabia. Eu não acredito na realidade, eu acredito no que eu sinto e por isso foi triste ver o santuário vazio, de novo. 

Mas não posso ser leviana, derrubar um deus prepotente, por um momento, me fez sorrir.

Previsível. Afinal, eu não sei brincar, nem perder e só você estava se divertindo.





12 de junho de 2022

domingo, junho 12, 2022

Toda história inacabada é eterna



Senti o pesar como uma nuvem negra perseguindo a tempestade. Embora assim fosse, a chuva dos meus olhos caíram com muita delicadeza - há muito tempo não sentia uma tristeza tão bonita. Era saudade banhada com o mais fino dos argumentos, salpicada com pensamentos que variavam entre momentos de lucidez e constatações fatalistas. Desde então, não tenho a quem recorrer além do meu fone de ouvido e algumas lembranças que já começaram a falhar com o tempo.

Não há lugar de sossego para o arrependimento, não há um único fio que o  traga de volta para mim. Usei uma tesoura tão afiada quanto nossa conexão costumava ser. Penso: pelo menos, a vida está seguindo. O que não impede de me sentir triste exatamente por isso. 

Essa sou eu tentando equilibrar o que não tem equilíbrio - ainda sinto muito - misto de intensidade e lamento por não ter a nossa ilusão disponível no meu radar.

Percebi, tarde, que lia minha alma antes de ler minhas intenções, não importava o que eu dizia ao contrário, e por isso eu sei que escutou o que eu não precisei dizer. Mas não entendeu. E eu entendo.
Era cedo, mas há tempos ando atrasada. Eu não tinha como esperar o ajuste dos ponteiros. Nestes casos, será cedo sempre e é isso que me consola. Mas é inegável o cheiro de eternidade que nossas almas simulavam enquanto o tempo te roubava da minha presença. 

Para mim, a eternidade é sempre pouco, eu sempre desejo ir além.

Embora isso tudo pareça raro, eu sinto muito que só possa sentir assim - longe. 
Embora longe, eu sinto muito perto - ainda. E será assim por um bom tempo. 

Toda história inacabada é eterna. 
É por isso que eu jamais disse adeus.
Mas não vou voltar.







6 de outubro de 2021

quarta-feira, outubro 06, 2021

Em defesa dos intensos (não aos dramáticos)




É muito comum as pessoas confundirem pessoas intensas com pessoas dramáticas, mas essa injustiça eu não vou cometer: o dramático cansa as pessoas, os intensos se cansam. O dramático interpreta que sente muito, o intenso sente e transborda e vaza por todos os poros - é sobre isso que pensei outro dia enquanto tomava banho e rebatia mentalmente alguma situação que não fazia o menor sentido relacionar. 


Queria defender os intensos mas não há defesa, eles estão condenados às piores formas de existir que o ser humano poderia ter - aquelas que precisam sentir muito e tudo e sempre para só então respirar e deitar a cabeça em paz no travesseiro. Não é que eles podem não ser assim, não há saída para o que se é, ou você é ou você simplesmente rasteja pela vida como um zumbi. 


Não dizer o que sente, esconder o jogo e tentar conter os gritos de alegria que a alma dá com qualquer mínima reciprocidade infantil é para quem consegue fazer drama, não para os intensos. Não há cálculo, não há atalho, só há vontade, energia e aquela falsa sensação de poder que a explosão do intenso promete gerar antes de cair em desgraça com as consequências das suas não-escolhas. 


É por isso que o intenso joga limpo, porque ele precisa que o território exista para caber sua explosão, e se depois dela, não houver mais território, nem som algum, só então, eles deixam para lá. 


Mas é um deixa pra lá depois de ter dito tudo que queria, de ter dado todas as coordenadas de onde a bomba vai cair. Depois de instalar o caos, só depois disso, quando já não existir nada além de pedaços e poeira ele vai dizer.


Junta os cacos de si mesmo e vai colar sozinho, não há depois, promete que nunca mais vai se envolver em nada assim tão profundamente. Neste momento ele começa a se regenerar, parece que liga um autolimpante emocional e vai saindo do planetinha sem forma cheio de respostas que não precisava.


Vai rir depois porque não vai encontrar nexo no tamanho do investimento feito para com o estrago colhido é  que não tem a ver com ninguém mesmo, é uma necessidade básica da existência deles.

Mas quer saber? Deixa para lá. 




 

25 de setembro de 2021

sábado, setembro 25, 2021

Primavera das Lagartas




Acordar com raiva é melhor que acordar frustrada - dizia a si mesma para tentar entender essa roupa que sua alma vestiu na última semana - é que despir esperanças vazias e colocar os pés no chão parecia uma longa sinfonia de uma nota dó, mas funcionou.

Encontrar o pote de ouro na mediocridade cotidiana é uma arte que nunca dominou, sempre precisou de mais, aquele mais que não existe no mundo real e não ter para onde escapar quando seu palácio de memórias não faz mais sentido é assustador. 


Não queria mais intercalar respirações fugindo da luz, não queria mais o despertar da vontade, só queria encontrar a si mesma numa varandinha cheia de ar nos pulmões e satisfação na ponta dos dedos. 



Cansou de pegar em facas para defender sozinha uma plantação de cinzas. Decidiu plantar em si tudo que mataria para regar no outro. É aquela coisa de terra fértil, só há veneno por aí  e não há outro lugar mais fértil que sua própria existência disposta a ser mais que uma alma perdida em paixões de mentirinha e enganos mal elaborados. 


Deu ódio, mas aquele ódio que te faz afastar o que te faz mal, sabe? Deu ódio de ser vulnerável, deu ódio de estar disposta a se ferir para curar o desejo, deu ódio de facilitar o caminho de quem não tem pés para sua estrada, deu ódio, deu em todas as flores, ódio de não cortar antes. 


É aquele sentir que desperta a semente da lucidez, que faz colher satisfação e benignidade de espelho. Quando estiver pronta, vai plantar em si, de novo, agora só o que colheu da poda, da distância e do jejum de olhos - que venha a primavera das lagartas. 




15 de setembro de 2021

quarta-feira, setembro 15, 2021

Mergulhar no raso também é necessário



Tem a profundidade de uma xícara, é o que eu digo sempre de quem não vai fundo nas coisas. Mas nem tudo é para ser mergulho, às vezes é só para molhar a pontinha dos dedos e sentir aquele ventinho de verão no final da tarde, é tão gostoso - não precisa ter sentido além disso. Estar onde se está, e não buscar nada além da presença presente, é bonito, é leve.  

Mas nem sempre é simples assim, alguém inventou que tudo precisa ter sentido e significado para além do que estamos vivendo, e talvez, essa seja nossa maldição. É que a linguagem permite que a gente deseje o que não se pode pegar, pior, a linguagem permite que a gente tenha fome de significados abstratos, por exemplo, desejamos o amor do outro, desejamos o desejo do outro, mas o que é isso afinal se não uma imbecilidade que afoga nossa mente em tristeza e agonia?

A gente quer tomar o café pela manhã, ser o café, a xícara, e o pó que sobrou na borra da garrafa. Quando isso não acontece, a água passa da fervura e seca antes mesmo de chegar na garrafa. Era só um cafezinho mas parecia uma ópera angustiante - é isso que o desejo faz com coisas tão simples, vira vício, dá abstinência. 

Quando não tem mais motivo para ferver a água, vai querer criar um. É aí que vai jogar a xícara no chão para ela se quebrar em mil pedaços porque assim talvez, algum dia, ela se junte novamente. Não importa o que ela era, pegou a agonia pelo pescoço e a afogou no raso, sem dar nova chance para o tempo de fervura da água com o pó, preparar aquele cheirinho de fim de tarde. Deixa para lá, é melhor se afogar no raso que boiar no vazio. 






24 de agosto de 2021

terça-feira, agosto 24, 2021

Bad Trip



(Aqui vai um monte de metáfora porque não posso perder a chance da riqueza que ela finge agregar nesse texto)

São 14:55 de uma terça-feira e ela já está na segunda taça de vinho, curiosamente, teve um lampejo de lucidez e tomou um remedinho para não ter tanto efeito colateral desse momento bizarro que subitamente se permitiu ter. 


Colocou Duda para tocar, e está sentindo tanto! É como se tivesse aberto a caixa preta de um avião antes dele colidir num muro de concreto. É muito ruim não conseguir ser esse muro. Infelizmente descobriu que é o avião e a caixa preta está prestes a desgraçar sua autoimagem. Mas tudo bem, a alienação vai conseguir transformar tudo que sente em nada - a viagem dessa bad é o que vai salvar seu voo imbecil em um laguinho raso como a sola de uma havaiana velha - puta que pariu que sentença foi essa? 


Do absoluto nada ela se pergunta: isso tudo é culpa dele? E a consciência (maldita) logo responde: claro que não. É culpa dela mesma, ela não consegue manter o controle de nada, sua cabeça é fudida demais para não inventar qualquer coisa insignificante que tire ela da realidade, já não suportava mais conviver com tanta solidez e existencialismo. Estava sedenta por uma ilusão que valesse cada gota do seu Cabernet.


Chegou a conclusão que, o vazio que lhe preenche desde o momento que se percebeu existente (ela tinha 5 anos) é muito pior que qualquer brincadeira adolescente gritando "você já tem 30 caralho".


Entendeu cada uma das pessoas que por um momento assim desistiu de tudo, e partiu para a memória eterna das outras pessoas que nunca se lembraram o suficiente para perguntar se elas queriam companhia no precipício. Ah, como o ser humano é patético e egoísta. Mas ela não achava que era assim, lutava contra o altruísmo exacerbado que veio instalado de fábrica: todo egoísmo à mostra era só mentira das mais deslavadas. 


Enfim, mais uma tolinha enganada por sua própria vaidade, ou uma boba qualquer que poderia ser enganada por qualquer psicopata que quisesse lhe tirar tudo. Mas ela não teve essa sorte. Teve que lidar com tudo no real sem ter a quem culpar - e você sabe o que isso significa né? 


A viagem ainda está longe de terminar. Aperte os cintos. E sinta muito por ela só não sinta pena, você não sabe o quanto ela é mentirosa quando está vulnerável e carente por atenção. Mas não finge que não sabe do que se trata, ela sabe que você sabe. Nós sabemos! 


(É aqui que você desce mas continua viajando)




Diário nas Redes

Playlist Spotify

Direitos Autorais

Todo o conteúdo do Diário de uma Lagarta está protegido sob as leis de direitos autorais brasileiras. Portanto, é expressamente proibido a reprodução de qualquer conteúdo autoral em texto, imagem, áudio ou vídeo sem o consentimento da autora deste espaço. O mesmo equivale para o título do blog ou para qualquer elemento da atual identidade visual e gráfica. Caso haja uma violação de respeito ao direito autoral e intelectual, o autor desta infração sofrerá todas as medidas judiciais e extrajudiciais cabíveis, tendo como base a legislação brasileira vigente.

Créditos das Imagens

Todas as imagens ou conteúdos de terceiros que são utilizadas nas postagens deste blog, estão devidamente informadas do crédito ou da fonte de onde elas foram capturadas via link incorporado. Caso o autor queira que a imagem ou conteúdo seja retirado, basta entrar em contato no e-mail contato@diariodeumalagarta.com.br