Olá Companheira - Diário de uma Lagarta

25 de junho de 2016

Olá Companheira



Era uma tristeza tão familiar que entrou pela porta, colocou o pé no sofá, abriu a geladeira e pediu para abaixar o volume do pensamento. Eu disse olá, mas queria mesmo era mandá-la embora, fingir que não conhecia, virar a cara, ficar indiferente. Não deu. Sua presença era convidativa, era inverno em mim, sentia frio, busquei um café, me sentei com ela e fomos conversar. 
Não se pode negar velhas amizades, por mais difíceis que suas presenças sejam, de certa forma, nos fazem bem. Mas a tristeza é daquelas amigas sazonais que não podem ficar muito tempo se não ao invés de duas, viramos uma só. Eu entendi isso com muito custo, já cheguei a pensar que ela era eu, que eu era ela, para nos dividir e estabelecer as fronteiras declarei guerra, e assim foi, descobri que ela tinha nome próprio e não era o meu. Ela não tem consciência disso não, se eu não gritasse ela ficaria para sempre assim, mesclada em mim.  

O silêncio é o cálice da tristeza, e foi assim que conversamos. Servi meu silêncio com doses de café. Meus pensamentos ao contrário da minha voz, não se calaram um segundo. 

- Não faz sentido - era a única sentença que eu conseguia pronunciar. 

Ela em silêncio me olhava nos olhos, com aquele olhar marejado que denuncia empatia como quem responde por telepatia. Eu ouvi com meu coração cinza: - eu sei.

Passaram uns minutos e eu ainda tinha uma sutil repulsa à sua presença, não queria me render assim tão facilmente, sabe quando a gente se cansa de viver os mesmos enredos? Ela significava uma história que eu já conheço o final. Esperei um pouco, e num impulso ( novidade para mim) eu disse:

- Vou escrever sobre você!
  (Ela se assustou e eu também)

- Vou falar da sua visita, vou escrever como me sinto quando você chega, vou dizer o que você significa para mim, vou falar que estou com você agora aqui em casa, vou falar com as pessoas sobre você. 

Ela se emocionou. Eu levantei, liguei meu PC e comecei a escrever. Quando percebi ela havia ido embora sem se despedir, até agora não sei se ela gostou ou não, talvez eu nunca vá saber. 
Ela vai voltar, eu sei. Enquanto isso, eu quero terminar esse texto para que ela saiba que não a odeio, pelo contrário, mas não posso passar o tempo todo com ela, nossa relação é boa mas preciso conhecer outros sentimos por mais tempo, preciso viver outras experiências com a alegria, com a alienação, com o encantamento, eu preciso de ter um pouco mais de paz, preciso ter espaço para a plenitude do amor, preciso sorrir, ( eu adoro gargalhar). Quero redescobrir o sentido ou criar um. Não quero que os obstáculos sejam mais difíceis que eu, eu não vou facilitar para ninguém, ninguém facilitou nada para mim. Resistência eu já tenho, só preciso resistir um pouco mais, e mais. Vou comprar uma caixa de lápis de cor, vou ver vídeos de catiorros, vou fazer memes, vou lembrar das coisas que deram certo, muitas coisas deram certo também... Enfim. 
Deixei um recado para ela, vê se ficou bom:

Miga, gostei da sua visita. 
Mas não posso viver só para gente. 
Preciso de mais interações.
Espero que entenda.
 Bjo

Si Caetano 

 

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