Diário de uma Lagarta

14 de maio de 2015

quinta-feira, maio 14, 2015

Urgente: devolva minhas ilusões



A realidade me matou. A ilusão me mantinha com esperança. Ter esperança com consciência da realidade parece quase impossível. Quando eu vejo os fatos sinto medo e um bocado de tristeza. Alegria é impossível quando se tem consciência latente. No máximo, por um momento distraído. Alegria perene, não. A realidade não dá folga. Ela dá no máximo trégua.

Já a ilusão nos dá um outro olhar, vemos mas vemos uma realidade diferente, mais coerente, mais cheia de oportunidades, igualitária, com sentido de plenitude, mais conveniente, mais acolhedora, mais bonita, mais merecedora de crédito. Quem tira a ilusão de alguém, deve saber que está assassinando uma alma atoa. Para que viver consciente neste mundo cão? Onde a realidade brinca com sarcasmo, zomba da nossa boa vontade, e nos humilha mostrando o tempo todo a nossa impotência diante da sua força?

Preciso de uma ilusão, por favor me iluda, com fé, me dê de novo aquela religião forte, que justifica minha pobreza. Não suporto mais ter tanta consciência do mundo sombrio que estamos metidos. Não tenho mais nada a que me agarrar. Não tenho um dogma inquestionável, não tenho uma utopia platônica, não tenho um time infalível, não tenho um dom anormal, não faço nada pela humanidade, não saio de casa com saquinhos plásticos recicláveis, não acredito que os animais sejam melhores que humanos, não consigo achar nos livros a melhor viagem que o homem inventou, não pratico esportes, não quero ser a melhor mãe do mundo, não quero fazer melhor para deixar um legado para outros, não consigo acreditar no futuro, não confio em quem não olha nos olhos, nem em quem não se expõe ao ridículo, nem em quem não sabe rir de si mesmo,  não acredito em boas intenções, não acredito em palavras de ações contrárias, não quero mais escrever um livro, não acho que a família é imaculada, acho que livros de autoajuda são a causa maior da desgraça na terra. E agora?

Talvez eu esteja tendo apenas um dia triste, talvez essa seja minha atual realidade, não sei. Mas, se pudesse dar um grito para o mundo ouvir seria - Ressuscita-me ignorância!




Belo Horizonte, 23/04/2014

4 de maio de 2015

segunda-feira, maio 04, 2015

Oração de quem escreve



Antes de escrever, faço essa oração: 

Quero ser invisível aos olhos do insensato. Aquela gente que só repete e não reflete. 
Que minhas palavras sejam expressões e não armas contra mim mesma, nem contra o outro. Não quero assassinatos com minha escrita, só quero aliviar a alma, só quero expor o que eu sinto, o que calo, o que espalho. 
Que não ajunte sobre mim o peso da má interpretação, nem dos sentimentos, nem dos meus textos, menos ainda dos meus pensamentos soltos. Que as múltiplas possibilidades sejam as primeiras a se apresentar e que, a identidade verdadeira se apresente, sem precisar explicar. 

Que cada um consiga retirar do que escrevo, aquilo que necessita para si. E se não conseguir, que respeite quem conseguiu. Que não entendam cada linha, uma autobiografia do autor, mas que absorvam o dna dele, contido em cada cenário descrito, como o criador ou escondido nas entrelinhas.  

Que espalhem pela rede minhas escritas, mas que digam que são minhas e não usurpem minhas palavras, como se fossem delas. Que não matem minha expressão, dizendo que não me pertencia. 

Que as palavras que de mim saem derrubem o que já deveria ter caído, e que construa o que pode ser absolvido. Que mantenha o que é base. 
Que não falte inspiração.

Que não falte dor, que sobre amor e que mais que livros, eu produza afetos. 

Pois um conjunto de belas palavras não são suficientes para construir um bom texto.

É preciso dizer algo. Que vai além de escrever.
Eu digo inferno, mas queria mesmo era ler céu. 
Já dizia J. Castro. Queria dizer isso também.

Amém. 


3 de maio de 2015

domingo, maio 03, 2015

Choro é sinal de vida




Acumulamos orgulhos e tristezas no coração até entupir a percepção da vida. Quando cai em nós uma gota de consciência e amor, desaguamos esses entulhos em forma de choro, uma copiosa tempestade de lágrimas que saem jogando tudo pra fora. 

Perdemos o ar, suspiramos pesado, balbuciamos grunhidos como se fossem palavras, pedimos socorro a existência, molhamos a camisa e ficamos ali, até secar.

Passado o soluço, mais que de repente, nossa alma responde: agora chega, já me lavei, pode levantar.

Tomamos um banho, um bom café, dormimos e seguimos pela vida. No dia seguinte, como se nada tivesse acontecido, lá estamos nós de novo, a entupir as veias da alma com alguns entulhos, recolhemos os antigos e acrescentamos novos.

Não penso que não aprendemos, penso que enquanto vivermos neste mundo, todo ser de carne há de sagrar. Nem que seja pelos olhos. Quem perde a capacidade de chorar, já morreu ou nunca viveu de verdade. 

Meu desejo sempre será, que nunca percamos a capacidade de 
de chorar. Chorar é se renovar. É se dar chance de limpar, é se arrepender, é ressuscitar. É se afetar. 
Todo ser que tem afeto, se afeta. Afetará. 


Si Caetano  - 03/05/2015

24 de abril de 2015

sexta-feira, abril 24, 2015

Quero tudo




Me pego querendo prender.
Prender a sorte, os sonhos e você.
No fundo, queria tudo só para mim.

Quem não quer?
Acho que sim,
pensar que os outros desejam
o mesmo que eu,
justifica meu egoísmo.

Mas logo, passa.
Volto a desejar.

Não quero tudo de uma vez,
porque não sei lidar com estoques.
Mas quero sim, tudo.
Pouco a pouco,
tudo o que a vida tem para me dar.

incluindo você,
do jeito que está
de barba, óculos e besteiras.
Quero tudo
que nosso amor
pode me dar.


Si Caetano 16/07/2013
Atualizado - 24/04/2015

19 de fevereiro de 2015

quinta-feira, fevereiro 19, 2015

Corações de mãos dadas




A intimidade do casal é exposta ao dar as mãos em público. É muito mais erótico que um beijo. 
Dar as mãos vai além de entrelaçar dedos, é trocar calor. É sentir a pulsação do outro, que naquele momento intencionalmente, se aproximou de você. Quando amamos, dar as mãos traz para o visível uma disposição mental, uma decisão que existe no invisível. É uma sensação de prazer inegociável, darmos as mãos à aquela pessoa que nos habita por inteiro. Pensamentos intenções, atos e negações. Um casal que não da as mãos, provavelmente não está de mãos dadas no amor. 


Eu, não percebia nada disso, antes das minhas mãos encostarem as mãos dele. Hoje, eu estou contando os dias para voltar a dar as mãos fisicamente. Porque no mais, nossas mãos nunca se soltaram. Nem a 2.000 quilômetros de distância. 


Si Caetano - A Lagarta 


6 de janeiro de 2015

terça-feira, janeiro 06, 2015

O Chato



O chato não se importa de ser. 
Geralmente, é simpático. Quer se mostrar útil.
Oferece serviço, produtos, soluções, teorias e tem sempre uma caneta na mão para emprestar. Tem sempre uma palavra supimpa para dar, sobre aquilo que você não perguntou.

É aquele ser que as pessoas dispensam, porque precisar dele é ter que aguentar sua presença insistentemente desagradável. 

O chato não sabe o valor do silêncio, fala incansavelmente por horas a fio e descaradamente te pergunta se está incomodando.

Desconfiômetro não veio de série.

O chato, é o dono da loja que vive contando suas infinitas histórias de viagens enquanto você está doido para pagar sua conta e ir embora. É aquele parente que tem coragem de dizer a meu respeito para o fulano ao lado, como se eu não estivesse presente. 

É o mestre da piadinha sem graça, é o espanta bolinho. É ele chegar para cada amigo inventar uma desculpa e ir embora, tudo em questão de segundos. 

Cuidado, se um ser que você desconhece a procedência, te abordar com "desculpa, não quero ser chato". 

Fuja. Está na frente de um. 

E cá para nós, não é que ele não quer ser chato, ele só não quer que você descubra logo de cara. 

Cara, como é chata sua existência. 
Vê se me erra e acerta alguma coisa.
Nem que seja a hora de ir embora.
Já deu. Já foi?

Autora: Si Caetano

19 de fevereiro de 2014

quarta-feira, fevereiro 19, 2014

Odeio corretor ortográfico ambulante.







             Detesto corretor ortográfico, porque ele sabe corrigir mas não garante o sentido das minhas palavras. Me aponta palavras equivalentes, mas que não traduzem o sentimento da minha frase. Chega a ser constrangedor algumas vezes, quem nunca passou vergonha por causa de alguma palavra corrigida e substituída automaticamente pelo corretor?  Você iria escrever padaria e ele substitui por peitinhos. Silêncio. É hora de disfarçar e dizer : maldito corretor ! Mas não bastasse termos que lidar com a parte chata de querer escrever certo no celular, surge uma nova modalidade de pessoas. Os corretores ortográficos, ambulantes. Não existe nada mais chato, que uma dessas pessoas na roda de conversa. Os corretores ortográficos modo ambulantes, querem doutrinar as pessoas. Como se fosse um pecado mortal errar. Não é. Repito, não é.  E quando se trata de erros grotescos, não é ficar escrevendo texto criticando que vai resolver o problema. Tira seu certificado de professor de português vai para sala de aula, e resolva o problema do Brasil, porque o buraco é muito mais embaixo. 

                Um bom texto é muito mais que um conjunto de belas palavras escritas corretamente.

            O que a maior parte destes não sabem é que dentro das universidades existem pesquisa sobre este tema, onde se discute muito a respeito de não existir certo ou errado quanto a fala por exemplo, e quanto ao texto, dependendo aonde ele foi vinculado, é até compreensível o uso de certas linguagens, fora a norma culta.

            Percebo muito nas redes sociais uma forma peculiar de escrita, além de ser um "lugar" diferente do escritório onde trabalho, a de se considerar os deslizes na escrita  como resultados também de fatores como: celular, teclinhas pequenas, touchscreen, ônibus balançando e outras aleatoriedades que a mobilidade nos infligem.

             Será que é tão difícil ser menos cruel com questões tão "estéticas"?  O propósito da escrita é comunicação. Em ambientes que requerem formalidades, como o ambiente escolar, empresarial, entre outros, o rigor é compreensível e imprescindível, mas quando vejo os "excessos" da classe de bem, politizada, que gosta mais de leitura que das pessoas a sua volta me pergunto, quem consegue conviver com gente assim por perto?

                Sou a favor de "corrigir" pessoas quanto à ortografia em um caso específico: quando o sentido do que se escreveu/falou ficou comprometido, fora isso, acho de extremo mau gosto expor a pessoa. Tenho a impressão que algumas destas pessoas que corrigem outras em público, fazem apenas pelo prazer de mostrar superioridade. A norma culta existe para padronizar o texto público, facilitando a comunicação, mas quando se trata da fala, não existe uma norma. Temos aqui no Brasil por exemplo, várias derivações da mesma língua, o que chamamos de regionalismo. No sul se fala tu, em minas ocê. Você vai me corrigir por isso? Eu sou mineira, uai.

              Tenho um pessimismo guardado aqui no peito, eu acho que a chatice piegas dominou as pessoas. Neste ponto, só o bom senso não resolve. Quem é chato, é mió deixa de lado.

                Corrija meu silêncio. Ou meu texto. Mas, você entendeu bem o recado, né?


 Indignada com o politicamente correto burro.

8 de novembro de 2013

sexta-feira, novembro 08, 2013

Dançando com a vida


Eu quis fazer as pazes com a vida
Olhei no fundo dos seus olhos, e fiz o convite
chamei a vida para dançar
Quem sabe assim, ela fica mais próxima a mim
e me convence a aceitá-la?
Ela sorriu de volta e veio ao meu encontro.
Me compliquei nos passos que ela começou a traçar
me embolei, cai e pensei que não conseguiria levar.
Quase desisti, quando a música começou a mudar
cada hora ela pedia um ritmo, e o passo começou a apertar.




Mas ela como mestre na arte de ensinar
me deixou segui-la aos 'trancos e barrancos'
até que eu aprendesse a rebolar.

                    

No final das contas decidi não trapacear
Confessei a vida, disse que não sabia dançar
Ela me olhou profundamente 
Aquele olhar me encheu o coração e então
segurando firme na cintura da vida
dançando com a música que ela pedia, prossegui.

No compasso do tempo, me empolguei
desistir? não mais....
ela não aceitaria a deselegância
de largá-la sozinha no meio do salão.
Inventei essa desculpa, por ela
Já não queria deixá-la 
ansiava pela continuação.

Então, 
Continuo dançando até agora, 
ainda não aprendi. 
Mas isso não é essencial. 
Ela me disse, com seus sorrisos 
e olhos profundos
que o ritmo pode mudar
os passos podem falhar mas, o mais
importante é dela vida, não largar.

Si Caetano

7 de novembro de 2013

quinta-feira, novembro 07, 2013

Cisne Negro - Relíquia de Colecionador






Quando vi o filme Cisne Negro pela primeira vez, me senti muito impactada, fiquei horas pensando sobre a personagem principal, e agora que o vi pela segunda vez, ao som da trilha sonora do filme decidi registrar algumas palavras mas antes, para quem ainda não assistiu vou contextualizar a história.
A personagem principal Nina Sayers interpretada pela vencedora do Oscar de melhor atriz, Natalie Portman, é bailarina e filha de uma ex-dançarina que a todo momento mesmo que sem dizer nitidamente pressiona a filha para ser o que ela não conseguiu ser . Essa pressão imposta pela mãe, faz de Nina uma moça extremamente exigente consigo mesma e obcecada por perfeição. Em meio a tanta exigência e rigidez, se tornar inflexível e mecânica era quase inevitável.








Então, surge uma grande oportunidade na cia de dança que Nina fazia parte: ser a Rainha dos Cisnes em uma atuação dupla. Nina vê a chance de chegar além em sua carreira como bailarina, porém sua técnica e rigidez não pareciam ser suficientes para interpretar os dois personagens da peça. Em O Lago dos Cisnes, a jovem princesa Odette sofre o feitiço de um mago e se transforma em um cisne. O tal feitiço só poderá ser quebrado caso um homem a ame exclusivamente. Um príncipe se dispõe a salvá-la, mas, a ardilosa Odile sua irmão gêmea (Cisne Negro) o encanta, fazendo assim com que a promessa dele seja quebrada. Desiludida, a princesa se submete a um ato da morte, inconformada pela perda de seu amor.

O cisne branco era perfeito para Nina, pois representava inocência e a graça, já o Cisne Negro a junção de malícia e sensualidade se tornou um desafio perverso que na busca por fazer com perfeição o segundo papel leva a bailarina a 'se perder' entre a realidade e ficção. Em um ambiente de inveja, cobiça e disputas entre as dançarinas, ela vai ficando cada dia mais obcecada e sua sanidade é colocada em cheque para que o Cisne Negro ganhe forma e agrade ao diretor da peça  (seu príncipe?) que a todo momento a desafia, chamando-a de frígida, gélida entre outros adjetivos pejorativos. 





A personagem Nina faz várias perigosas denúncias para nós: até aonde podemos chegar quando deixamos nosso desejo cego por perfeição dominar nossa mente ao ponto de nos entregarmos ao irreal? Será que realmente sabemos e conhecemos os nossos limites? Estamos nós totalmente livres de viver tais conflitos? Será que a pessoa que atravessa seu caminho te impedindo de viver de forma plena, não é você mesmo? 


De uma forma amplificada para quem assiste, o filme mostra a todo momento o caminho que a mente humana pode percorrer em um piscar de olhos da existência para levar alguém ao fundo do poço, ou ao fundo do lago, no caso do Cisne Negro.  Mas o fundo do lago para o Cisne Branco, foi o ápice do sucesso. A interpretação da atriz Natalie é brilhante, e não foi por acaso que levou quase todos os prêmios que foi indicada pelo papel, ela consegue viver a personagem de uma forma tão real que você não percebe que ela está interpretando. Apesar de ser uma história densa que a todo momento somos surpreendidos com os conflitos existenciais da personagem, o filme entra para uma lista de filmes únicos  ao explorar com intensidade a personagem principal e nos transportar para plateia do teatro.


Mas, são poucas as pessoas reais que conseguem perceber e se colocar no lugar do outro. Ter uma alma sensível a sentimentos e realidades fora seu infinito particular é raro, é um dom. Além de enxergar com lente de aumento a própria realidade, as pessoas que são agraciadas com este dom conseguem 'ver' muito além do objetivo, do lógico, do 'faz sentido' natural. A subjetividade dos fatos faz tanto sentido para elas quanto uma equação de álgebra para um matemático. É um dom também doloroso pois quem tem essa sensibilidade natural de ver 'almas humanas' com tamanha transparência mesmo atrás de rostos sorridentes, jamais conseguirá se manter rígido a dores, dilemas e conflitos alheios, sem se identificar e sofrer junto.




Agora podemos perguntar : Quem quer sofrer junto nos dias de hoje? Quem quer ouvir histórias em que o final não seja feliz? Quem quer tentar entender uma alma atormentada ? Cisne Negro pegou uma alma e a escancarou aos nossos olhos um drama psicológico, por isso talvez, não tenha caído no gosto popular. São poucos os que conseguem como ostras transformar dor em pérolas, pode existir então uma beleza na dor, mas com certeza são poucos os apreciadores do roteiro.

Cisne negro é como um carro antigo, relíquia de colecionador. Porque só quem o entende vai gostar e ter em sua coleção.  Eu o tenho na minha , e você ?






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