Diário de uma Lagarta

28 de maio de 2016

sábado, maio 28, 2016

A culpa é minha



Sou estuprada a cada 11 minutos.
Minha alma e dignidade são manchadas
a cada segundo.
Não posso mostrar meu rosto
Não posso ter gosto
Não posso ser livre
Não posso andar na rua
Não posso ter desejo algum
Não posso negar sexo
Não posso falar o que sinto
sem que isso pese sobre mim
Não recebo justamente pelo que produzo
sou peso morto ainda que viva
Sou estepe, mercadoria
vitrine, objeto de luxo
Só valho alguma coisa quando
me calo. Quando silencio.
Quando finjo que não incomodo
quando desisto de mim.

Sou culpada de antemão, vadia,
vagabunda, que não sabe
o seu devido lugar.
Que não pode usar a razão.
Sou um buraco que só serve
para  esperma depositar.


Sou a putinha que não se cala
que quer ter direito à fala
que não aceita a supremacia
de um gênero, de um falo
que toma tapa na cara
porque terminou um relacionamento

Enfim, confesso todos os meus crimes,
eu aceito todos os meus defeitos.
Meu maior crime, é ser mulher
meu maior pecado é não ter dono.
Pode me crucificar.


Si Caetano
28/05/2016

6 de maio de 2016

sexta-feira, maio 06, 2016

O ciclo da autossabotagem




A gente sabe o que tem que ser feito. Se promete lealdade. Coloca no papel, pensa em como fazer, vislumbra os resultados, suspira. Organiza tudo, começa a semana arrumando armários, exclui mensagens velhas na simbologia de poder limpar memórias internas, reflete sobre os desejos, pondera, renega, se segura, não exagera, você sabe o que tem que ser feito. 


Dorme, e no outro dia esquece tudo.

Abre os olhos como se não soubesse a que veio, só lembra do que foi suprimido pelo bom senso, não faz o que tem que ser feito, enrola, mexe no celular, enrola, não abre o caderno para checar as anotações, enrola mais um pouco, deixa crescer a sensação de incomodo, deita, mexe no celular de novo, não come, levanta mais uma vez agora com esperança de começar o dia, já são meio dia, almoça. Cochila, mexe no celular, procura as mensagens antigas, restaura as apagadas, checa mágoas, fuça páginas, enrola. Chegou. São 17:00pm. Nada foi feito. Mas agora você começa a fazer tudo o que deveria ter sido feito às 09:00am. Não dá tempo. Desespero, urgência. Ansiedade domina, vem o descompasso. Qualquer vírgula pode ser mal recebida, instala-se o caos. Tudo isso porque não obedecemos a primeira regra - não se sabote jamais.




20 de abril de 2016

quarta-feira, abril 20, 2016

Floresc(eu)




Finalmente, eu cresci.

Não consigo me reconhecer

nas antigas tolices
que me prendiam ao berço da vida,
o que me faz ninar a mente,
já está no chão
o que me deixa de pé
são os tombos
que ensinaram a levantar.


Finalmente, eu sai do deserto

não sei por quanto tempo

nem sei se estou no rumo certo

não importa, o caminho me faz

estou mais alerta.


Finalmente, eu respiro

o ar da minha identidade

meu RG bate com a foto

que faço de mim mesma

olho no espelho e me vejo

somos amigas - passado e presente.

cortei as daninhas e cultivei

outras sementes

sou fruto dessa colheita

eu por mim mesma

com as podas de mim


Finalmente, esvaziei a mala

aquela cheia de entulho

restos de sentimentos da alma

da paranoia delirante de

viver todos os dias no

mesmo lugar, na mente.


Finalmente, eu sei

sou eu mesma,

sempre fui,

eu não sabia

que cada nuance

era parte integrante

do que eu sou agora

e sempre foi - um leque

de mim.


eu assumo a autoria

Aceite quem puder

quem não puder

não sei... só sei que

nunca mais vou

negar a alegria

de ser quem eu sou

de viver o que eu vivi

de me contentar com

o que ficou.

Eu fiquei, inteira

DESABROCHOU.


24 de março de 2016

quinta-feira, março 24, 2016

Não estou à venda



Enlatados
Eles são bem chatos. 
Querem que eu seja
como eles são. Monocromáticos.
Não dá, eu desisti. 
Eu não caibo no padrão 
não sei fazer à moda 
nasci para ser artesã.
Levo tudo comigo
da raiva ao perdão 
e me refaço.
Não sirvo ao padrão 
sou peça única 
da minha própria coleção

E você acha que pode me comprar?
Não estou à venda 
não sou de coletivos
não me encontrará 
em promoção
não me alinho aos ísmos
não tenho coerência 
não bato continência 
a nada nem ninguém 
não me curvarei 
ao mundo digo não.
Enquanto buscam se encaixar 
eu quebro a caixa
vejo sinal em tudo
mas não me vejo em nada
Meu valor é incalculável
e você ainda acha 
que me comprará com dinheiro? 
Cala boca mundo lixo
seu mercado imundo 
só merece meu desprezo.


22 de fevereiro de 2016

segunda-feira, fevereiro 22, 2016

A natureza poética da vida





  Eu nasci e sempre quis saber porquê
procurei respostas, sentidos, me iludi, cansei...
me conformei.
E quando eu achei que não havia sentido
a vida me leva à metamorfose.
No casulo da minha alma
eu só tinha minhas questões sem resposta
e algumas dores... muitas dores.
Foi quando descobri
o sentido que eu tanto buscava:
estava dentro de mim
A vida é em mim
a potência que me faz evoluir
Quando eu estiver pronta
abrirei minhas asas e voarei rumo a serenidade
de ser quem eu nasci para ser
A terra é um grande casulo cheio de lagartas
em metamorfoses, prazer sou uma delas.



19 de fevereiro de 2016

sexta-feira, fevereiro 19, 2016

Por favor ser humano


Salvador Dali



Por favor, não se entregue ao limbo em vida, não cai na esparrela de abdicar dos sentimentos, não tenha medo de sofrer, não seja covarde. 

Por favor, sofra. É assim que deve ser.

Têm coisas que só farão sentido depois que você sentir na pele o fogo do não, da rejeição, das suas limitações, você tem que sofrer. Você precisa aprender a sentir dor, é ela que te fará conviver com empatia e te mostrará a verdade: VOCÊ NÃO É IMBATÍVEL. E não deveria ser mesmo, deixa isso para os deuses ou os psicopatas. Não se venere, não venere psicopatas.

Por favor, não finja: uma hora você esquece que está fingindo e passa a ser assim pra sempre. A gente aprende por repetição, então não finja ser o que não é. Deixa seus demônios a mostra. Eles serão exorcizados pelas verdades sobre você. Não tenha medo delas.

Por favor, abra os olhos para tudo que pode ser vivo e transmitir vida a sua alma: não se deixe hipnotizar pela medusa do entretenimento vazio, já experimentou olhar para o céu hoje? 
A natureza te dará respostas, você vai pensar coisas ilógicas, mas se elas fazem sentido para você, considere. Chamamos isso de: intuição. 

Por favor, não mutile sua existência. Não faça dela maneta, cuide de todas as áreas da sua vida como se fosse cuidar de uma flor diariamente e se respeite. Você é parte de um cosmos, organizado e em movimento.

Por favor, não compre ideias baratas, elas te darão ressaca por toda existência. Geralmente, te dão um alívio imediato mas não geram frutos sadios. Estão contaminados pelo mercado da felicidade a qualquer preço, não pague por isso. Não tem valor. Felicidade não pode ser comprada. Cada um deve fabricar a sua.

Por favor, não ignore o valor da vida. Não vá com a manada rumo ao nada. Busque o seu sentido, um caminho que pode ser só seu, e ele certamente será perfeito para você, se não encontrá-lo, crie.

Por favor, não dê tanta importância ao que dizem a seu respeito, incluindo o que você diz. Quem você é de verdade sempre fala mais alto, então descubra quem você é. Ou pelo menos, se dedique a saber mais de você, e goste disso. Seu sistema operacional interno funciona de um jeito único, se colocar algum aplicativo fora do padrão de fabricação, não roda. Lembre-se disso. 

Por favor, sinta e sinta muito.  Jogue fora esse pacote de jargões feitos para robôs, que só sabem repetir funções, comprar peças padronizadas e usar uniformes. Seja um modelo único da sua espécie.

Por favor, seja humano. Um humano que se dedica a aprender a viver. A viver melhor, a tornar a sua vida melhor e a vida das pessoas que estão a sua volta. Você faz parte de algo, todos na natureza cumprem uma função. Descubra a sua.

Tire a etiqueta da testa, você não é produto do mercado, você pensa, você sente. Até uma bactéria tem mais função na terra que um ser humano morto em sua própria existência, se sinta desafiado por ela. 

Te falaram que viemos do caos? Sim. Viemos. Somos um caos. Um baita caos que se organizou e estabeleceu o que ninguém até hoje consegue fabricar. VIDA. 
Então, aproveite a sua da melhor maneira possível. 

Acorda e vive. Viva a vida de ser humano, seja bem-vindo ao planeta terra.
Todos nós precisamos de você vivo e funcionando. 

                                                                               







22 de setembro de 2015

terça-feira, setembro 22, 2015

Não sou poeta



Não sou poeta
Não precisa medir o que escrevo, categorizar, porque realmente não presta.
Não me interessa a beleza das palavras, me interessa o sentimento que elas espelham. 
Por isso, não posso ser poeta.
Sou escrava das ideias e não das palavras, não posso ser poeta.
Sou pretensiosa: quero lidar com âmagos, não posso ser poeta.
Não me interessa se fez rima, se falou bonito, se é literatura fina, não posso ser poeta.
Não preciso ser chamada de escritora para escrever, não posso ser poeta. 
Ainda sim, escrevo com a poesia. Se essa servir para dizer algo, que diga.
Mas não posso ser poeta e não sou.
Agora posso ser quem sou.
Só uma alma que fala.
Falarei.







14 de setembro de 2015

segunda-feira, setembro 14, 2015

Não deixa ela entrar






Se o nosso pensamento voa por alguns segundos e não encontra lugar de repouso, algum sentimento vai querer nos dar abrigo, nunca saberemos qual. Tenho a sensação que a tristeza é a primeira a se apresentar e como somos carentes, não queremos dispensar a companhia, a convidamos para entrar. Ela se instala no peito, pronto. Colocamos uma música sombria para ela fazer mais sentido, começamos a pensar com sua energia e o que era apenas um vagar sem motivo se torna um pensamento fixo: nada faz sentido. Estamos tristes, sem forças, sugados, cansados de respirar, sem vida, sem motivos para movimentar, então nos sabotamos. Primeiro, deixamos de organizar nossas coisas, depois atolamos tarefas, em seguida perdemos a vontade até de tomar banho, e por fim o sono profundo nos consome como se a vida tivesse nos abandonado. Nos esforçamos para fazer o básico, ir ao banheiro, se alimentar, tentamos de todas as formas disfarçar que nesse momento não temos mais nada além de incômodos. Parece que fica um gosto amargo na boca, ter que engolir a própria saliva é uma penitência. O único pensamento que alivia é o que não temos quando estamos dormindo, por isso corremos para lá. O que era para ser um momento se transforma em horas, dias, meses, anos, uma vida inteira. Tínhamos uma rotina, um plano, algumas expectativas e de repente, nos abortamos em vida. 

Quando a tristeza  se instala perpetuamente ela vira um modo de ser. É como se modificasse nossa forma de ver o mundo, de sentir e perceber a vida. Eu não chamo de depressão uma tristeza com causas reais de dor, fruto do luto, da desgraça, da doença, da injustiça, eu chamo de depressão essa forma de viver em que não suportamos lidar com as questões mais fundamentais da vida, tudo é pesado, tudo vira motivo para reforçar nossa falta de sentido, é uma doença da qual, precisamos cuidar não é apenas uma tristeza. É um buraco escuro, cheio de lama que quanto mais a gente tenta sair mais fundo parece que caímos. Não é voluntário, que fique claro. Alguns de nós têm em si pré-disposição a dar lugar à ela, outros podem estar com o biológico alterado, e por falta de certas enzimas no organismo, ela encontra eco e espaço. São muitas as razões pelas quais ela pode entrar. O que eu sei é que não precisamos dela. Não precisamos receber ordens de uma entidade tão nefasta. 

O vírus é uma incógnita para a ciência pois, ele tem comportamento de ser vivo mas quando está dentro de um, fora do ser humano ele não tem as mesmas características. Dentro, ele se reproduz, impregna o ser infectado com seu material genético. Para mim a depressão é um vírus emocional. Não sabemos exatamente da onde ela vem, como ela chega, por que ela existe, qual sua origem inicial, mas sabemos que se ela entrar, ela vai se reproduzir como um vírus. Ela tem seu DNA próprio, seus códigos estão cheios de dor, morte, ausência de sentido e tristeza. 

Mas como um vírus, ela pode ser evitada, combatida, e destruída. Não podemos ignorar a depressão como se ela não fosse o que é: uma doença. E sim, é contagiosa. Dê uma olhada ao seu redor, dê uma olhada em você. Se pergunte a quanto tempo sua mente te fala da mesma dor, do mesmo pé na bunda, do mesmo fracasso, da mesma rejeição? Há quanto tempo você está levando sua vida mais cedo para cama, há quanto tempo suas gavetas estão desorganizadas? Há quanto tempo você não sorri com a vida? Há quanto tempo você disse para você que não vale a pena? Há quanto tempo você desistiu? É a resposta para estas perguntas que dirá se o que existe na gente já é patológico, ou não. Independente do que seja, compartilhe com outras pessoas, peça ajuda. Não fique dentro de você por muito tempo, sozinho. Você pode esquecer o caminho de volta. 

Eu não saberei te responder qual o sentido da sua vida, quais as respostas para suas dores, qual a saída do seu caos, mas eu sei que não precisamos deixar ela entrar. Eu sei que para mim funciona viver, com toda verdade da minha existência, ainda que sem respostas, estou buscando no dia de hoje, o sentido para acordar, respirar, descobrir o que eu gosto, quais são meus gostos, meu DNA próprio, a parte que cabe a mim nesse mundo. Sem vagar demais no pensamento, sem dar asas ao que não encontra repouso, e dentro de todas as características que descubro a cada dia, a que mais me surpreendo é a de ressuscitar. Somos feito de vida. É inerente a nós.  

Talvez aquela música bonita, um café, suspiros leves possam ser pequenas chances que a gente se dá para tomar fôlego, aliviar o peito e continuar. Tenhamos cuidado com as nossas tristezas, jamais apego. Quando o pensamento vagar, observe-o e cuide para que ele não traga junto uma presença indesejada. Se ela (tristeza) já estiver com você deixa ir, precisamos de companhias melhores.



9 de junho de 2015

terça-feira, junho 09, 2015

Platão tem razão



São aqueles olhares que não se cruzam, mas um deles, observam atentamente. O amor platônico é o encontro de um só. É um ser dizendo que encontrou seu grande tesouro enquanto o outro nem sabe se queria ser encontrado por quem o achou. É o desencontro dos olhares, onde o olhar que foi encontrado não percebe que outros olhares os observam fixamente, ardentemente. 
São devotos do amor platônico, na maioria observadores e com um certo íma para encontrar no desencontro dos olhares aquele ‘amor perfeito’ que existe dentro da imaginação equivocada de todos nós. Não sei se por sina ou escolha racional mesmo (embora isso seja difícil) acabam sempre sendo atraídos por pessoas que seus olhares indicaram como sendo seus possíveis amores impossíveis, pois assim são os amores platônicos, impossíveis de serem vividos pois na maioria dos casos o ser amado não sabe que o é , não faz nem ideia e provavelmente nunca saberá mesmo. 
É aquela admiração secreta, muda, velada. O ser admirado muitas vezes é visto como um semideus acima da média humana, imortal e por isso a impossibilidade de correspondência seja tão forte nesse tipo de “amor”
É aquele choro escondido ao saber que seu “grande amor” conheceu um grande amor e não se tem coragem de dizer nada pois pensa-se com aquela ‘certeza absoluta’ que nunca será correspondido por achar que o ser amado é ‘demais’ para si ( na imaginação) e tudo acontece lá dentro, o encontro o primeiro beijo, tudo isso dentro de um campo de batalha constante que é a mente humana.
Amar dentro da mente é mais cômodo, prático e fácil. Amar no dia a dia é difícil, manter a admiração por alguém que se conhece por inteiro, saber de todos os defeitos e qualidades e ainda responder sim para o amor é coisa de gente grande, de alma limpa e coração nobre. O amor platônico nos deixa meio covarde, na verdade um covarde e meio.
Quem tem um amor platônico no fundo sabe que a correspondência desse amor significa o fim do amor, toda a perfeição que foi criada será esmagada pela realidade e então talvez por isso a possibilidade desse ‘amor acontecer’ seja descartada, na maioria dos casos prefere-se a fantasia, o sonho, o filme, os contos, escrever sobre ele é bem mais seguro do que todas as verdades de um amor possível, é mais confortável assim.
Mas deixar o ser livre para outro amado, se ver fora da possibilidade de correspondência, sabendo que não é parte daquilo que o “encontrado” deseja encontrar, dói.
E não tem como escapar, se é amor mesmo que platônico... tem que doer.


Belo Horizonte, 02/08/2011

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